quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Carta a J.P

Nós nascemos no mesmo ano - 1980 . Você um pouquinho antes de mim: 27/10. Eu cheguei logo depois, numa noite bem quente de 08 de dezembro. Desde então éramos vizinhos na Rua São José, quase que de parede, somente a casa da dona Maria separava as nossas.  
Quando você chegou já tinha dois irmãos te esperando, você seria o meu primeiro.
Passamos juntos por uma infância difícil, repleta de restrições, mas curiosamente não percebemos isso, apenas muito tempo depois. Para nós estava tudo perfeito: pais protetores, mães lutadoras, amigos dispostos, dois irmãos para cada um que deram conta de nos ensinar a dividir e a respeitar de qualquer forma as diferenças... A Rua São José era mesmo o melhor lugar do mundo: depois da escola  era pique que não acaba mais: pique - cola, pique - bandeira, pique - esconde, pique - pega, queimada, amarelinha, garrafão. Desse último me lembro bem: levei bons cascudos de você, que me faziam  ir embora chorando, mas no outro dia estava tudo certo. Comíamos farinha com açúcar, tomávamos banho na caixa d'água, era tudo uma festa, não dava tempo de sentir falta de nada.
Entramos na escola e fomos sempre da mesma turma e acho que foi bem nessa época que comecei a reparar direito em você, admirava sua inteligência, sua facilidade com a matemática. Tratei de me esforçar, de estudar bastante, não queria ficar para trás, queria competir, queria ganhar de você. Na matemática não deu mesmo! Mas foi tão bom para mim... Fomos os primeiros da turma, muitas vezes.
Fomos para o catecismo juntos - saudosa Celina. Ajudamos missa, cantamos no coral da igreja, fizemos primeira comunhão, também dançamos quadrilha juntos, e desses momentos restaram algumas poucas fotografias e muitas saudades.


E então a adolescência chegou e muita coisa mudou, "como tinha de ser" você ganhou espinhas e uma voz estranha... eu fiquei feinha  e sem jeito (tô pegando leve comigo), assim os olhares passavam bem longe de mim, mas você já tinha algumas admiradoras e era eu quem entregava as cartinhas de amor...  e às vezes não!
A vontade melhorar de vida, de nos tornarmos "alguém na vida", nos separou fisicamente, fomos cursar faculdade em estados diferentes. "Foi um tempo de aflição" ... responsabilidades, dividir o tempo entre trabalho e faculdade, grana super apertada, parecia que não ia dar, e junto com tudo isso as novidades da juventude, hormônios à flor da pele. Você formou família. Cedo demais!? Que susto! Que medo! E agora??
Hoje sabemos que era a mão de Deus te abençoando mais uma vez, afinal que bela família você formou!


Fomos ficando assim: longe dos olhos, perto do coração. Encontro nos feriados, páscoa, natal, carnaval... Mensagens nos aniversários e momentos difíceis. Foi assim que senti sua oração e energia em minha doença. E então tive certeza que estar junto realmente não é estar ao lado. É estar dentro. E sempre estivemos!
Sei que ainda estou  te devendo aquela visita... Mas meu amigo, meu primo, meu irmão : que homem maravilhoso você se tornou. Que orgulho da sua caminhada honesta e vencedora.
Que bom que ainda podemos nos rever, matar a saudades, abraçar e conversar nesses mesmos feriados, naquela mesma  Rua São José.


Com carinho para meu primo João Paulo Rodrigues